NÃO CHORE, SORRIA
Batista Custódio faz parte do grupo de amigos que Bernardo e eu temos
Chamo o Bernardo para esclarecer e justificar o título deste espaço. Não sei como classificar na literatura o que Bernardo escreveu. Não sendo trovinhas, não sendo “triolé”, achei por bem chamá-lo de ‘brincadeira ritimada’, coisa que ele se deleitava em fazer. Brincava com a ‘pena’, acariciando com ela a ‘pena’ do lesado. Se você quiser pode chamá-lo de ironia rítmica. Aqui Bernardo suaviza a raiva dos lesados com seu estilete irônico. A escolha fica a seu critério.
Enquanto é tempo...
Tu roubas e ele rouba, nós roubamos, vós roubais.
Poderoso é quem mais rouba, honesto quem rouba mais.
Que roubem quanto quiser, às claras e bem ligeiro, antes que algum estrangeiro nos roube tudo que quer. (Bernardo Élis)
Como você vê não há data, talvez seja da década de 80. Mas como quase toda a literatura ‘bernardiana’, este escrito é atual e universal. Com isso, Bernardo nos mostra, primeiro, que a corrupção sempre existiu. Segundo, ele nos aponta a dialética da história.
Estamos vendo o País sendo assolado pela corrupção. Como uma infestação de vermes, ela habita na “cabeça” e sai espalhando o seu mal por todo o corpo do País que de paradisíaco passa a infernal. Estamos vivendo na expectativa, na espera de mais uma notícia desastrosa. Na ansiedade, descobre-se que o País está em crise e que dias melhores virão, talvez logo, talvez mais tarde. Uns verão, outros não.
Aqui está a dialética da história. É a eterna estória das sete vacas gordas, e depois das sete vacas magras. Dizem: a história se repete. Pode até ser. Mas não nos esqueçamos que todo o fato repetido vem tão maquilado que quase não o reconhecemos. Ele vem em outros tempos onde, supostamente, os homens cresceram, onde a inversão de valores se estabeleceu, onde os meios justificam o fim, onde os meios tornam-se os fins e com isso os homens deixam aflorar o que há de pior em si: a materialização de sua vaidade incontrolada. Seu cérebro torna-se uma esponja encharcada de vaidade.
Vaidade que o cega e o faz pensar que é um deus.
O envaidecimento é coisa perigosa, lembra Gabriela Mistral: ...enfim, o envaidecimento desta grandeza material não me leve ao esquecimento de que sou barro e sou mortal.
A estrela, que deveria ser colocada no céu como um objetivo a alcançar e onde lia-se: “Marcaremos este tempo com a ordenação ética do sistema”, caiu. Caiu no lamaçal da corrupção e a sua força rasgou o chão da esperança, provocou uma erosão gigantesca no terreno da política. A esperança em dias melhores foi pelo ralo do esgoto da corrupção que passou a correr a céu aberto, que estragou a esplanada, minou os palácios e fede até nas catedrais.
A democracia perdeu a sua coroa. Está doente. Empestiada pela anarquia. Não há o respeito entre as instituições. O ser humano esqueceu que ele é um ser finito, na concepção restrita do ser. “Soy barro e soy mortal”.
Muitas vezes, indagam: “por que atacar com tanta veemência o governo atual, quando é sabido que a corrupção sempre existiu?” É verdade, a corrupção sempre existiu, mas o que destaca fortemente a corrupção atual das anteriores é a promessa de uma ordenação ética.
Falou-se tanto em ética que o povo esperançou. Vestiu seu coração de verde. Hoje, este verde foi coberto pelo vermelho que vem dos corações exangues.
A situação do País é muito séria. Razão pela qual é preciso que o cidadão decida a política, reflita sobre a nossa situação como nação. As pessoas dizem: “não quero ouvir falar em política, odeio ouvir falar em política”. E, por quê? Porque estão confundindo política com politicagem.
É preciso discutir. Saber que nenhuma instituição existe sem estar embasada em três linhas diretrizes: a política, a metodologia e a filosofia.
Qualquer grupo humano, a começar pela família, tem que ter estes três elementos orientadores. Muitas vezes, encontramos famílias humildes financeiramente, mas ricas moralmente, porque souberam aplicar, os três elementos tão necessários a um grupo.
Definamos, ligeiramente, cada um dos elementos que, obrigatoriamente, deverão estar no governo de uma nação democrática.
Política “é um conjunto de objetivos que informa determinado programa de ação governamental e condiciona a sua execução”. Complementando: “é um sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos”.
Filosofia: “estudo que se caracteriza pela intenção de ampliar incessantemente a compreensão da realidade”. Chamo atenção para duas palavras: ‘incessantemente’ e ‘compreensão’. Neste momento histórico, qual é a realidade brasileira? Para conhecê-la, um primeiro passo: estudar, conhecer esta realidade. Um segundo: a aplicação correta de princípios ditados pelo saber, pela filosofia. E como se dará a aplicação correta dos princípios ditados pelo saber?
Metodologia, “que estuda os métodos, a maneira de agir na aplicação correta daqueles princípios ditados pelo conhecimento da realidade”. A maneira de executar um programa é que faz a diferença entre governos com problemas semelhantes.
Sintetizando: a filosofia fornece conhecimento à política (de ação), que é executada, corretamente, por uma metodologia. Onde há maneira correta de agir não pode haver crises violentas, que nada mais são do que uma manifestação de ruptura de equilíbrio.
Tudo isso foi dito para justificar a necessidade de falar em política . Só falando, só tomando conhecimento dos programas de governos e conhecendo a sua filosofia, a sua política e a metodologia, é que você eleitor poderá fazer uma boa escolha e poderá sorrir.

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