NATAL
A você,
Revestindo-se
da cor da Fé,
a Caraíba
iluminou nossa casa,
Prenunciando
o advento natalino.
Ao assinalar do Novo Marco de Tempo,
Auspiciosos eventos,
Abraços,
M. Carmelita
Ofereço
esta crônica a todos ,os que perderam o
companheiro ou a companheira ou outro ente querido,recentemente. Unindo-me à
sua dor peço a Deus – Bondade Infinita o conforto na Fé.
O
último dia de 1997
De manhã, uma ave estranha me acordou. Parecia
coruja, parecia cauã, mas... Eu não sei... Talvez um Anu-macho chamando pela
fêmea. Só sei dizer, que era gostoso ficar aí ao embalo daqueles ritmados
piados. Um piado morno que me levou à madorna. Estava assim... Na
madorna,quando,desta vez fui, novamente, despertada por um atrevido João de
Barro, que não teve pena e martelou um grito bem no rumo da minha janela.
Martelou fortemente. Martelou, martelou e, sorri. Era assim que eu deveria
iniciar meu ano. Martelado pela luta, martelado por realizações. Depois
cochilei. O quarto estava escuro e, eu só, sem meu amor do meu lado; talvez
fosse melhor tentar dormir.
O rei do dia, ainda, não tinha anunciado sua
última jornada em 1997. Nisto, um passarinho malandro veio e assobiou na minha
janela. E ele assobiava... Assobiava, com tanta força, que pulei da cama,
assustada. Desta vez não teve remédio, os passarinhos chamavam-me para ver o
último dia de 1997... Só que desta vez eu estava só, estava muito só.
Levantei-me, agradeci a Deus pela
noite tranqüila, pedindo pelo dia, que se iniciava. Abri as cinco janelas do
meu quarto; janelinhas, mas... Janelas que abrem todo o vão. Ali, deixei, que o
rei do dia penetrasse, iluminando com muita luz, através dos espelhos, através
das vidraças todo o meu quarto.
Iniciava meu último dia de 1997.
Fatídico ano em que perdi meu Amor.
Voltei ao meu quarto. Olhando pelas
janelinhas, eu vi a delicadeza das folhas das Leucenas, embaladas por uma brisa
suave, que parecia não querer nem mesmo tocar nas frágeis folhas destas
Leucenas que cresciam, que floriam, parecendo querer entrar nas minhas janelas.
Mas... Havia tantas abelhas.
Ao longe, a Fogo Pagou cantava
anunciando que o dia ia ser quente. Mais distante, a voz era de uma Juriti.
Você não acredita, estou na capital do
Estado de Goiás, estou em Goiânia, mas ao redor de minha casa, eu semeei, num
lote vago, as Leucenas. Elas cresceram... Viraram árvores e hoje protegem a minha
casa, sombreiam o meu quintal, meu pátio acimentado, frio...parecendo um
deserto vermelho, ainda mais agora,que estou só. Aqui e acolá, umas manchas
azuis no barrado, nos canteiros, onde eu quis jogar um pedacinho do céu para passar
os últimos momentos com meu marido, já se despedindo de mim. Ambiente inundado
de dor, muita dor que me apunhalava a alma, dor que me agitava, dor que o
matava, mas que me dava forças para fazê-lo um pouco menos sofredor.
As leucenas são tão lindas... Neste momento
florido, elas chamam tantos passarinhos à minha janela. Gostaria que meu
Bernardo estivesse aqui. É impressionante, cada dia que passa aumenta mais e mais
o número de pássaros, de passarinhos. Agora, existe um ninho no meu pinheiro,
um ninho interessante, igual nunca vi. Parece um cone tombado de lado... Não sei...
Receio que o vento arranque este ninho. É tão minúsculo o pássaro, mas tão
grande na construção de sua casa, cumprindo a missão que lhe foi dada. Está lá
chocando, está lá reproduzindo para
alegrar a minha casa.
Aí... Desculpem-me pelos meus áis, mas
envolvida na minha dor, restam-me senão os áis...
Agora, chegaram os barulhentos periquitos.
Sabe que por aqui existe um bando de periquitos soltos, que a todo o momento
cortam o céu visto pelo vão das minhas janelinhas?... Dependuram-se nas
delicadas ramas das Leucenas que o embalam no ritmo de suas algazarras. Depois
eles se afastam, gargalhando ao vento,
voando pela cidade,talvez, bebendo água no Lago da Vaca Brava, talvez, comendo
frutas por algum quintal, se tiver árvores frutíferas. Se tiver quintal! Como é
bom falar de quintal... Quintal lembra a infância, a inocência. Como é bom ser
criança! Como é bom sonhar! Criar um mundo de ilusões, criar tantas coisas que um
dia, talvez, se possa projetar no futuro num tipo de realizações....É bom
sonhar...
Ái... Neste momento despertou-me de
meu sonho uma Caldo de Feijão. Essa rolinha Caldo de Feijão é um gemido, é um
gemido... Talvez um gemido mais forte do que o ano que agoniza. Mas, é lindo...
E por aí, você vê que o meu silêncio não é um silêncio desértico, é um silêncio
povoado de sons puros e belos, povoado
por aqueles sons que muitas pessoas não escutam por estarem muito ligadas à
terra. Eu não, eu posso até escutar a aproximação espiritual de Bernardo. Ele
que vem passar, de outra maneira, mas vem passar comigo o último dia de 1997.
Sei que ele ainda está próximo de mim. Ainda há muitas coisas dele aqui na
terra. Quero viver com ele estes momentos. Quero não sucumbir... Não... Com ele
vou projetar o ano de 1998. Ele estará me acobertando, ele estará me dirigindo em
tudo o que vou fazer, nos projetos que tenho. Não, Bernardo para mim não morreu.
Bernardo está aqui me ajudando.
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