sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Natal


                              NATAL

A você,
Revestindo-se da cor da Fé,
a Caraíba iluminou nossa casa,
Prenunciando o advento natalino.

 Ao assinalar do Novo  Marco de Tempo,
Tragam-lhe essas flores o reflorescimento de
Auspiciosos eventos,
                    Abraços,
                                    M. Carmelita


Ofereço esta  crônica a todos ,os que perderam o companheiro ou a companheira ou outro ente querido,recentemente. Unindo-me à sua dor peço a Deus – Bondade Infinita o conforto na Fé.

    O último dia de 1997
   
          De manhã, uma ave estranha me acordou. Parecia coruja, parecia cauã, mas... Eu não sei... Talvez um Anu-macho chamando pela fêmea. Só sei dizer, que era gostoso ficar aí ao embalo daqueles ritmados piados. Um piado morno que me levou à madorna. Estava assim... Na madorna,quando,desta vez fui, novamente, despertada por um atrevido João de Barro, que não teve pena e martelou um grito bem no rumo da minha janela. Martelou fortemente. Martelou, martelou e, sorri. Era assim que eu deveria iniciar meu ano. Martelado pela luta, martelado por realizações. Depois cochilei. O quarto estava escuro e, eu só, sem meu amor do meu lado; talvez fosse melhor  tentar dormir.
          O rei do dia, ainda, não tinha anunciado sua última jornada em 1997. Nisto, um passarinho malandro veio e assobiou na minha janela. E ele assobiava... Assobiava, com tanta força, que pulei da cama, assustada. Desta vez não teve remédio, os passarinhos chamavam-me para ver o último dia de 1997... Só que desta vez eu estava só, estava muito só.
         Levantei-me, agradeci a Deus pela noite tranqüila, pedindo pelo dia, que se iniciava. Abri as cinco janelas do meu quarto; janelinhas, mas... Janelas que abrem todo o vão. Ali, deixei, que o rei do dia penetrasse, iluminando com muita luz, através dos espelhos, através das  vidraças todo o meu quarto.
         Iniciava meu último dia de 1997. Fatídico ano em que perdi meu Amor.
         Voltei ao meu quarto. Olhando pelas janelinhas, eu vi a delicadeza das folhas das Leucenas, embaladas por uma brisa suave, que parecia não querer nem mesmo tocar nas frágeis folhas destas Leucenas que cresciam, que floriam, parecendo querer entrar nas minhas janelas. Mas... Havia tantas abelhas.
        Ao longe, a Fogo Pagou cantava anunciando que o dia ia ser quente. Mais distante, a voz era de uma Juriti.

        Você não acredita, estou na capital do Estado de Goiás, estou em Goiânia, mas ao redor de minha casa, eu semeei, num lote vago, as Leucenas. Elas cresceram... Viraram árvores e hoje protegem a minha casa, sombreiam o meu quintal, meu pátio acimentado, frio...parecendo um deserto vermelho, ainda mais agora,que estou só. Aqui e acolá, umas manchas azuis no barrado, nos canteiros, onde eu quis jogar um pedacinho do céu para passar os últimos momentos com meu marido, já se despedindo de mim. Ambiente inundado de dor, muita dor que me apunhalava a alma, dor que me agitava, dor que o matava, mas que me dava forças para fazê-lo um pouco menos sofredor.
         As leucenas são tão lindas... Neste momento florido, elas chamam tantos passarinhos à minha janela. Gostaria que meu Bernardo estivesse aqui. É impressionante, cada dia que passa aumenta mais e mais o número de pássaros, de passarinhos. Agora, existe um ninho no meu pinheiro, um ninho interessante, igual nunca vi. Parece um cone tombado de lado... Não sei... Receio que o vento arranque este ninho. É tão minúsculo o pássaro, mas tão grande na construção de sua casa, cumprindo a missão que lhe foi dada. Está lá chocando, está lá reproduzindo  para alegrar a minha casa.
        Aí... Desculpem-me pelos meus áis, mas envolvida na minha dor, restam-me senão os áis...
        Agora, chegaram os barulhentos periquitos. Sabe que por aqui existe um bando de periquitos soltos, que a todo o momento cortam o céu visto pelo vão das minhas janelinhas?... Dependuram-se nas delicadas ramas das Leucenas que o embalam no ritmo de suas algazarras. Depois eles se afastam, gargalhando ao  vento, voando pela cidade,talvez, bebendo água no Lago da Vaca Brava, talvez, comendo frutas por algum quintal, se tiver árvores frutíferas. Se tiver quintal! Como é bom falar de quintal... Quintal lembra a infância, a inocência. Como é bom ser criança! Como é bom sonhar! Criar um mundo de ilusões, criar tantas coisas que um dia, talvez, se possa projetar no futuro num tipo de realizações....É bom sonhar...
         Ái... Neste momento despertou-me de meu sonho uma Caldo de Feijão. Essa rolinha Caldo de Feijão é um gemido, é um gemido... Talvez um gemido mais forte do que o ano que agoniza. Mas, é lindo... E por aí, você vê que o meu silêncio não é um silêncio desértico, é um silêncio povoado de sons puros e  belos, povoado por aqueles sons que muitas pessoas não escutam por estarem muito ligadas à terra. Eu não, eu posso até escutar a aproximação espiritual de Bernardo. Ele que vem passar, de outra maneira, mas vem passar comigo o último dia de 1997. Sei que ele ainda está próximo de mim. Ainda há muitas coisas dele aqui na terra. Quero viver com ele estes momentos. Quero não sucumbir... Não... Com ele vou projetar o ano de 1998. Ele estará me acobertando, ele estará me dirigindo em tudo o que vou fazer, nos projetos que tenho. Não, Bernardo para mim não morreu. Bernardo está aqui me ajudando.

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